Num reino não muito longe,
houve um acontecimento que chamou a atenção de toda a população local,
envolvendo dois cidadãos do reinado, a Pedra e a Árvore.
Certo dia a Pedra decidiu que
não queria mais ser pedra, ela não nasceu para ser pedra. Desde muito tempo a
Pedra nutria uma vontade imensa de ser árvore e sozinha sonhava com o dia da
sua transformação.
Em outro canto da cidade,
existia a Árvore. Crescendo vigorosamente com suas folhas e galhos e todos
comentavam sobre os belos frutos que certamente sairiam dela. Mas Árvore queria
ser pedra, não nasceu pra ser árvore e sozinha sonhava com o dia da sua
transformação.
Um dia a Pedra e a Árvore se
conheceram, souberam dos desejos em comum, e resolveram se juntar em busca da
realização desses desejos. Logo clamaram que precisavam de ajuda, precisavam
ser vistas e atendidas de qualquer jeito. Aos prantos declararam que eram só elas
duas frente a uma multidão e queriam ter voz ativa, queriam ter direitos. Logo
um grupo de legisladores preocupados e “sensíveis à causa”, resolveram apoiar a
Pedra e a Árvore. Então surgiram debates, passeatas, movimentos, ONGs, projetos
de leis, tudo para tornar possível o sonho da Pedra e da Árvore.
Num belo dia foi anunciado que
elas teriam seus desejos atendidos, poderiam buscar as transformações tão sonhadas.
E o Rei pagaria todos os custos.
A Pedra, logo chamou os mais
renomados profissionais e começou a transformação.
Foi revestida com uma casca
sintética de árvore, implantaram-lhe galhos, folhas e ela mudou de identidade. Chamava-se
agora, Senhorita Verdinha.
E a Árvore? Ah, ela cuidou em
fazer o mesmo. Pediu que lhe arrancassem os galhos, folhas, revestiram-lhe com
concreto e recebeu uma bela pintura marrom-montanha. Mudou o nome para Rochedão.
Quanta felicidade. Não cabiam
em si. Tantas festas, entrevistas, Reality Shows... Mas no final da noite, ao
clarear de um novo dia, quando tudo acabava. Elas sentiam que algo ainda lhes
faltava. Apesar de todos os desejos atendidos, continuava um vazio e essa
sensação de vazio só aumentava... Nada curava esse sentimento. Um dia Rochedão
e Senhorita Verdinha estavam observando outras pedras e árvores felizes
seguindo seus caminhos. Ficaram então a se perguntar por que também não podiam
se sentir assim... Tão felizes.
Pobre Senhorita Verdinha,
embora tua casca sintética te dê uma aparência e até mesmo textura de uma
árvore...Não passa de uma casca, sintética, artificial, implantada. Embora teus
galhos exuberantes e tão lindas folhas, colocadas com tanto cuidado e
estética... E às vezes até balancem com o vento... Senhorita... tu não sentes o vento! Tuas folhas não são capazes de
captar e transferir essa sensação. Te jogas tanto ao vento que sentes o
desgaste e nunca o frescor. Embora tão... árvore... Nunca será uma macieira,
nunca terá o cheiro de um cajueiro, de uma mangueira, nunca entregarás tão
doces frutos. Quem te olha e admira essa aparência de árvore, tão habilmente
desenhada, sabe, contudo, que és Pedra.
Que fizeste Rochedão? Cortou
galhos, eliminou folhas. Revestindo-se com cimento... E essa cor? Essa textura?
Tudo artificial! Embora penses ser e queiras ser pedra, não pôde cortar tuas
raízes senão morrerias.
Teu tronco, que antes crescia
tão exuberante, agora jaz sufocado. E mesmo recoberto de concreto, não serves
como um pilar, pois dentro és madeira e como tal estás a apodrecer.
Pedra, sendo pedra, poderias
ser a pedra angular de um templo, uma faculdade, uma grande instituição.
Poderias fazer parte de um grande monumento, tal como semelhantes teus, que unidos,
formaram pirâmides, resistentes ao tempo, quase eternas. Mas, quiseste para ti
outro destino e agora, és apenas um adorno, algo que um dia foi diferente, sem trazer
diferença alguma ao mundo. Continuas sendo Pedra, mas mutilada e iludida, não
serves como pedra...nem como árvore. Serves apenas como um assento, como um
degrau, ficando sempre por baixo e sujeito aos caprichos daqueles legisladores “sensíveis
à causa”.
E tu Árvore, sendo árvore,
poderias render bons frutos, com teus galhos e folhas conceder sombra e frescor
que só uma árvore pode dar. Teus frutos seriam os mais doces. Teus galhos os
mais firmes, tuas folhas as mais verdes. Teu tronco forte, firme, robusto, com
raízes profundas, viverias por séculos. Que és agora? Não serves nem para
cadeira. Galhos cortados, tronco ressequido, quebradiço. O que te sustenta?
Essa carcaça cinzenta que te cerca e aprisiona.
Não podes dar fruto, nem podes formar uma coluna. Continuas sendo Árvore, mas iludida e mutilada, não
serves como árvore...nem como pedra. Serves apenas como um adorno, como um
degrau, ficando sempre por baixo e sujeito aos caprichos daqueles legisladores “sensíveis
à causa”.
Pobre Árvore... Pobre Pedra...
Volante CBPE
Carecas do Brasil – Pernambuco
Recife, Janeiro – 2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário